terça-feira, 29 de março de 2011



Contar até Dez


Existem momentos em que nós precisamos fechar os olhos e contar até dez.
Minha conta passou, e muito, dos dez; e ainda estou lutando contra aquele incômodo sentimento de raiva.
Tento dizer para mim mesmo que ela é infundada; tento me fazer compreender que não tenho sequer o direito de carregá-la em meu coração.
Mas não adianta. Há coisas que nos incomodam tanto que a razão não tem forças para lutar contra a emoção.
Não digo que seja um sentimento de revolta; apenas de decepção. E é na decepção que nos sentimos ainda mais incomodados.
Infelizmente esse é o preço da amizade. É o preço que pagamos por buscarmos pessoas ideais ao nosso lado. Claro que eu compreendo que todos são passíveis de erros, assim como eu sou. Como escrevi certa vez, entendo que, se não consigo perdoar o erro alheio, como poderia pedir que alguém me perdoasse o meu?
Mas não acho que seja o perdão o que está em jogo. Apenas a decepção. Aquela coisa que pode parecer boba aos olhos de quem vê, mas extremamente importante para quem sente.
A decisão é cruel. É terrível se encontrar naquela encruzilhada da dúvida, quando nos perguntamos o que fazer.
Qual decisão seria a mais sensata?
Sentar respirar, escrever pensar, ou tentar ir até à pessoa desabafar?
Dizem que toda a história tem três verdades. Eu arriscaria em dizer que três não são suficientes. Cada história tem dezenas, centenas ou, quem sabe, milhares de verdades.
A minha, a sua, a do outro; a de ontem, a de hoje ou a de amanhã.
Acredito que a verdade esteja inserida na compreensão da história e não nos fatos que ocorreram. Assim, como seria insignificante contar uma bela história de amizade para quem nunca a conheceu, seria idiotice tentar explicar o atual sentimento que nos traz o amargo gosto de uma triste história, que de tudo fez, menos acontecer de verdade.

Pedra Bruta


O discípulo conhece o Mestre.
Naquele momento o discípulo nada mais é do que uma pedra bruta a ser lapidada.
Perdido e tentando se encontrar, o Mestre tem o papel de desvendar o aluno.
Desmontar pedaço por pedaço. Procurar por danos reparáveis. Outros, que podem ser escondidos.
O aluno é denso, o mestre leve como uma pluma.
O mestre descobre todas as fraquezas e medos do discípulo. Então começa a trabalhar.
Quando o discípulo sente-se pronto, ele pode virar as costas para o Mestre.
Não por traição, mas porque ele é aquele que faz o, agora mestre, lembrar-se de todas as suas fraquezas. E ninguém gosta de ficar relembrando as derrotas ou de quem um dia já foi.
Procurar um novo mestre pode fazer com que a pessoa tenha novas percepções, corrija outros defeitos e trabalhe com maior segurança.
Porém o olhar do antigo Mestre. Aquele olhar penetrante nunca irá de assustar o sempre discípulo, que por mais poderoso que possa ter se tornado, sabe quem conhece todas as suas feridas. O valente homem nunca deixou de ser aquela pequenina criança que se escondia debaixo da cama.

Quem conhece a história de Azrael?

Bem, Azrael foi um anjo que abandonou a Deus, lançando-se ao pecado. Como punição, Deus o mandou para o Purgatório.
Depois de muito tempo, os anjos pediram que Deus tirasse Azrael do purgatório, porém o Todo-Poderoso se recusou.
Então os anjos desceram ao Purgatório e levaram Azrael para o Paraíso.
Enfurecido, Deus perguntou porque eles tinham feito tal coisa.
A resposta foi: Azrael já havia sofrido demais. Hoje, ele é conhecido como o "Anjo Vingador" de Deus. Aquele que sentiu o peso dos dois lados da moeda e luta contra o "pecado" e o "mal".
O que quero dizer, com esta pequena história, é que existem milhares de “Azrael” em nossas vidas. Incompreendidos, esperam por uma segunda chance.
Nunca saberemos punir alguém de forma justa, já que a punição é um conceito subjetivo. Devemos usar o bom senso, que é a única ferramenta que se aproxima da verdade.